30/06/2011

Não me confundas com qualquer coisa travestida, titubeante ou transviada porque eu, decididamente não o sou. E se à noite a minha silhueta te parece turva, dá uma volta à objectiva e ver-me-ás às claras.

24/06/2011


Foi-me reservado as promessas e os sonhos, o passeio virtuoso e o esboço dos aplausos. O rótulo do virtuosismo colou-se-me em variadíssimas temáticas, e eu, invariavelmente, com maior ou menor celeridade, tratava de desmitificar os augúrios, frustrando - mais os outros do que a mim - as expectativas em mim depositadas.

Que me lembre, primeiro foi a ginástica. Executava os exercícios com aptidão e valha a verdade, gostava dos treinos. Na primeira competição que participei, arrecadei a medalha de ouro nos exercícios com a bola e a corda. Na segunda, conquistei a medalha de ouro com a bola e a de prata com o arco. Não voltaria a saborear o pódio nos dois anos seguintes. Com o passar do tempo desinteressei-me e desisti.
Depois as aulas de piano. Lembro-me de ter recebido um órgão Yamaha num Natal e para espanto de todos, reproduzia com uma estranha facilidade tudo o que ouvia. Após três anos de conservatório de música, fui convidada a participar num festival musical. A minha participação resumia-se a um solo de piano que não ultrapassava os dez minutos. Lembro-me de espreitar por detrás da cortina um auditório que estava a rebentar pelas costuras. Não me lembro o que toquei, não me lembro se executei a partitura com rigor, mas nunca esqueci o terror que senti quando me sentei ao piano. Desde esse dia, não voltei a pôr os pés no conservatório de música.
Já na adolescência, a minha família dividia-se em apostas; uns garantiam que teria um futuro auspicioso no exercício da advocacia, outros, na política. O motivo era simples, um poder de argumentação que não raras vezes enervava os interlocutores.
Um dia, num jantar de família, disse que gostava de escrever. "Escrever o quê?" - Perguntaram-me... Não soube responder.

23/06/2011

No banho e ainda dormindo sinto a água quente a escorrer pelas costas. Oiço do outro lado da casa, o som abafado da máquina do café. Fecho a água quente e enrolo-me na toalha. Com os pés descalços e o corpo molhado, atravesso a casa e regresso à minha cama. Deixo-me ficar deitada e abraço-me à almofada na esperança de que o cheiro dele se cole à minha pele. Adormeço.

20/06/2011

A reacção de 106 (ou seria 105?) deputados.

oh shit Famoso gesto: Que merda

18/06/2011

O silêncio da minha casa é interrompido ora pelo suspiro da chaleira, ora pela voz desta senhora... o meu antidepressivo.
Dispo-me de ilusões e sei que há qualquer coisa que se infiltra nas unhas, na carne e nos ossos. Não sabendo exactamente o que dói - às vezes é a ferida que lateja, outras, bem sei, é o dedo que insiste em mantê-la aberta - insisto em domesticar os afectos. A esperança, dizem, é a última a morrer... mas a esperança é a primeira a levar um tiro no estômago.
Tenciono passar a noite sentada no parapeito da janela a beber chá em doses cavalares até que o sono me arraste para a cama.

16/06/2011

Beijos sem o auxílio das mãos, é um mau prenúncio. Um beijo deve ser sempre acompanhado com um afago no rosto, ou cabelo, ou pescoço, ou até o ombro. Meus amigos, isto é básico. E homem que não saiba isto, suspeito que em matéria de sexo chumbe nos psicotécnicos.
Um vazio. Não tenho nada de novo para vos contar. Ultimamente tenho pensado muito no Fernando Mamede... Não sei bem porquê. Relembro que o Fernando Mamede era tão extraordinariamente rápido que até era capaz de, com uma volta e meia de avanço, se foder a si próprio. Profundo.

08/06/2011

OST

07/06/2011

A memória é uma coisa estranha. As recordações que temos de pessoas, de lugares e de situações, são imagens altamente perecíveis. Contudo, à sempre qualquer coisa que escapa a todo este processo de deterioração. Qualquer coisa que persiste intacta e incólume. São as imagens que não conseguimos deixar de revisitar. Desde o beijo ao som de Chopin no metro de Barcelona, a vez que fizemos amor no alpendre de uma casa abandonada, a firmeza da tua voz quando dizias "nós" com a convicção inabalável de que nenhum outro pronome nos fazia justiça. A tua figura no outro lado da rua, à espera de um semáforo indeciso e demorado no primeiro jantar a dois, a noite passada em alto-mar, feita de abraços e confidências e aquele adormecer suave e pacífico que só acontecia porque quando estávamos juntos, sentíamo-nos em casa.
E sabemos - sabemos porque os olhos se fecham e sentimos na pele arrepiada, no choro quieto na almofada, nas mãos trémulas que fazem força uma contra a outra para tentar ceifar o soluçar aflito que insiste em irromper - que são recordações que nos vão ficar como uma cicatriz fica. Permanente.

05/06/2011

O que é que faz uma mulher, às três da manhã, quase desesperada por não conseguir dormir? Ajeita-se na cama e lê a biografia de Aristides de Sousa Mendes? Saboreia vagarosamente um cigarro e observa o fumo azulado a desprender-se-lhe da boca? Estuda sem pudor da janela do quarto as sombras ritmadas por detrás das persianas japonesas dos apartamentos em frente? Acrescenta um capítulo a um manuscrito que há-de ser livro e que há anos tem vindo a escrever? Bebe uma chávena de chá enquanto afaga fotografias que permanecem no limbo do particípio passado? Arrasta-se pela casa numa curtíssima camisa de dormir de alças acetinada? Errado.

[Imagino que seja possível ficar quieta num canto sem dizer nada e esperar que as coisas passem. Mas as coisas não passam e eu não consigo ficar quieta... Há sempre algo a dizer.]

Então, o que é que faz uma mulher, às três da manhã, quase desesperada por não conseguir dormir? Arma-se com panos vários, vassoura, balde, esfregona, Sonasol e Cif, e movida por um frenesim inusitado declara guerra aos germes mais resistentes.

02/06/2011

Alguém devia de informar os alemães, que manda o bom senso que se lave o pepino antes de o enfiar em sítios apertados. E depois também, se ainda o quiserem laminado a florear um qualquer prato de novel cuisine sem micoses. Tss, tss... Até a Margarida Menezes sabe disto.
 
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