27/02/2011

Na varanda, enrolada numa manta vermelha, a beber do sol e a ouvir o canto dos pássaros que despontou nas horas imberbes da manhã. Nas minhas mãos uma chávena de café quente, a segunda do dia. Estou para aqui a pensar nas milhentas coisas que quero fazer na minha vida. Hum... Mergulhar de olhos fechados. Cozinhar melhor. Perder-me numa qualquer floresta da Ásia rudimentar. Sentar-me no topo de uma sequóia. Aprender russo. Caminhar descalça no vazio dos dias. Domesticar as insónias. Rir-me por dentro. Recitar poesia para uma plateia de velhos. Esquecer fotografias num bolso de um casaco perdido. Abraçar um koala. Seguir as pegadas do arco-íris. Engolir o mundo...
O coração a começar a bater mais rápido.

24/02/2011

Caminho até ao fundo da rua, viro à direita, percorro mais uns metros e novamente à direita. Atiro o corpo para dentro de um táxi, murmuro o nome da tua rua entre dentes e sou levada. Deixo-me ficar à janela. Do outro lado do vidro, casas de pintura descascada, paragens de autocarro apinhadas de velhos e estudantes, caixotes de plástico, um labirinto de vultos numa paleta de cores. O ruído dos pneus no alcatrão. Semáforo vermelho. Na passadeira, uma mulher de meia-idade caminha com um ar pesaroso. Numa mão carrega um saco de compras volumoso, na outra, um apanhado de gerberas. O táxi arranca. Na ilharga, candeeiros de metal fusco que emitem luz que ora cresce ora se extingue. Sou levada.
Avisto ao longe o canteiro com margaridas brancas. Cheguei. Pago e saio do carro. Não penso em nada, nem sinto nada. Esqueço-me de mim.
Atravesso a rua. Continuo a andar até encontrar o café da esquina. Sento-me ao fundo do corredor. Tiro o casaco. Peço um chá preto. Abro o livro. Leio. Bebo vagarosamente o chá. Fecho o livro. Levanto-me. Pego no casaco e na mala e saio. Acendo um cigarro e deixo-me ficar à porta do teu prédio. Uma vizinha tua passa por mim e esboça um sorriso. Devolvo mecanicamente a cortesia com uma facilidade educada de anos. Entro no elevador. Cheguei. Desconheço o meu paradeiro sei apenas que cheguei a ti. Alheia ao mundo. E ele a mim.

22/02/2011

Lamber postais

Madre mía...
Naquela noite, quando ele me estendeu um braço e me abraçou pela primeira vez, eu estremeci e consegui ouvir os meus ossos a quebrarem-se todos. Naquela noite, quando por fim se fez silêncio, ele disse-me ao ouvido "Estoy aquí. Estoy aquí."... O som era harmonioso, morno e familiar. E foi nessa noite, foi nesse abraço que eu descobri que o meu ódio tinha afinal um prazo de validade, ou de como aprendi o perdão como um catecismo.

19/02/2011

Cinco mulheres e uma sessão de terapia de grupo. Qualquer coisa parecida a isto.
Propósito: Substituir o Yawp por uma outra palavra ou frase de modo a libertar a revolta e alcançar a libertação. O que quer que isso signifique.
Prémio da noite: Para a C. que gritou em plenos pulmões "No cu não porque dói!".
Memorável!

17/02/2011

No caderno que trago sempre na mala está escrito:
Tópicos a desenvolver

- Os comentadores da SportTV são uns brochistas remunerados
- Fé, falta de fé ou de como eu invejo as pessoas que têm fé
- As saudades que eu tenho da minha amiga Michelle
- A letra prosaica e um bocado parva do novo hit dos Deolinda
- Síndrome de Asperger é uma coisa lixada e altamente complexa
- Pornografia asiática ou a obsessão dos asiáticos por gajas com vestes colegiais
- Dicas fáceis contra cabelos oleosos para enviar à Helena André
- A dúvida do Piqué: a anca da Shakira ou a piça do Ibrahimovic
- O soberbo trecho musical com que fui brindada por parte de um visitante assíduo (Espumem à vontade. Ninguém tem melhores leitores do que eu!)

16/02/2011





"Todo sobre mi madre", Pedro Almodóvar


Usurpado deste magnífico blog.

14/02/2011

Com o passar do tempo, a alma tende a abraçar uma estranha quietude e o coração hipoteca intervalos. Na verdade, aprendi a lidar com isso em silêncio o mais que posso e (já) não me aflige. Aceito as coisas tal como elas são, porque a irreversibilidade dos afectos é assunto delicado e demasiado doloroso.
Quatro vãos de escada e cinquenta e seis degraus de mármore. Cinquenta e seis. Contei-os da última vez que os subi. À descida, abraço o ritual... quatro vãos de escada e cinquenta e seis degraus de mármore.
Sento-me por instantes no último degrau e encosto-me à parede fria e húmida. Acendo um cigarro e deixo-o arder. Repito para mim mesma "um dia hei-de ouvir a minha voz contar-me coisas que não sei... um dia hei-de ouvir a minha voz".
Levanto-me. Enfrento a noite. Ligo o carro.

(E quando me faço à estrada, já não me lembro de ti.)

12/02/2011

Neste blog também se escreve sobre egípcios, bisnagas de halibut e palitos

Mubarak a Presidente do Sporting!
Bem vistas as coisas, o egípcio até tem menos ar de talibã que esta criatura.

11/02/2011

Acabo de esbarrar com um antigo colega de trabalho enforcado numa gravata medonha 3 tamanhos abaixo do recomendável. Quer dizer... existe gente que precisa desesperadamente de um Tim Gunn, que isto do enforcamento também requer algum glamour.

09/02/2011

Qualquer coisa entranhada... viva, estranha. Qualquer coisa que eu não consigo contrariar. Uma coisa a qual eu não sei dar um nome a roer-me por dentro e que eu não consigo encontrar e estrangular antes que ela me encontre e por fim me devore.

07/02/2011

Eu nem sou muito de gostar de pessoas, e em boa verdade vos digo que sempre preferi a companhia dos meus cães a pessoas, mas gosto muito do Eduardo Sá. Gosto do discurso aliado ao magnífico timbre da voz e da capacidade que tem de me serenar o espírito. O Eduardo, é das poucas pessoas que tem a aptidão para falar com genuíno empenho e sem laivos de impostura sobre variadíssimos assuntos. Tanto fala de crianças manipuladoras, como da arte dos afectos violentos, do pé esquerdo do Óscar Cardoso e até - pasmem-se (!) - de técnicas de masturbação.
Oiço-o religiosamente todos os dias e por mais do que uma vez adormeci com as palavras dele a rodopiar na minha cabeça. Agora que penso nisso, dou-me conta que era capaz de pôr em prática todo o potencial dos meus maxilares e chupar os dedinhos dos pés do Eduardinho com pecaminoso contentamento como se faz a um calippo de morango num dia quente de Verão. Gosto mesmo muito do Eduardo Sá.

06/02/2011

O calo que trago no dedo indicador da mão direita não esconde a obsessão. Anos e anos a escrever compulsivamente.

04/02/2011

Hei-de esconjurar esta nódoa. Hei-de esfregar até não sentir a carne. Esfregar com violência esta mácula até que ela ou as minhas mãos desapareçam...

03/02/2011

A blogosfera está deserta. A esta hora, todos os caminhos vão dar ao Facebook. Não admira pois que não saibam nada do que se passa nas telenovelas da TVI.

02/02/2011

Ponto G


A mais recente aquisição tem a assinatura do Luís Onofre.
A revitalização da economia portuguesa é possível.

01/02/2011

É simples. Lembras-te de quando eras pequenino e atiravas tudo o que encontravas por perto para dentro de uma banheira cheia de água? Lembras-te que surpreendia-te a leveza das coisas e de como todas elas - ou quase - acabavam por vir à tona sem sombra de esforço... Lembras-te? Com a mentira a coisa funciona mais ou menos da mesma maneira.
 
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