24/02/2011

Caminho até ao fundo da rua, viro à direita, percorro mais uns metros e novamente à direita. Atiro o corpo para dentro de um táxi, murmuro o nome da tua rua entre dentes e sou levada. Deixo-me ficar à janela. Do outro lado do vidro, casas de pintura descascada, paragens de autocarro apinhadas de velhos e estudantes, caixotes de plástico, um labirinto de vultos numa paleta de cores. O ruído dos pneus no alcatrão. Semáforo vermelho. Na passadeira, uma mulher de meia-idade caminha com um ar pesaroso. Numa mão carrega um saco de compras volumoso, na outra, um apanhado de gerberas. O táxi arranca. Na ilharga, candeeiros de metal fusco que emitem luz que ora cresce ora se extingue. Sou levada.
Avisto ao longe o canteiro com margaridas brancas. Cheguei. Pago e saio do carro. Não penso em nada, nem sinto nada. Esqueço-me de mim.
Atravesso a rua. Continuo a andar até encontrar o café da esquina. Sento-me ao fundo do corredor. Tiro o casaco. Peço um chá preto. Abro o livro. Leio. Bebo vagarosamente o chá. Fecho o livro. Levanto-me. Pego no casaco e na mala e saio. Acendo um cigarro e deixo-me ficar à porta do teu prédio. Uma vizinha tua passa por mim e esboça um sorriso. Devolvo mecanicamente a cortesia com uma facilidade educada de anos. Entro no elevador. Cheguei. Desconheço o meu paradeiro sei apenas que cheguei a ti. Alheia ao mundo. E ele a mim.
 
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