A memória é uma coisa estranha. As recordações que temos de pessoas, de lugares e de situações, são imagens altamente perecíveis. Contudo, à sempre qualquer coisa que escapa a todo este processo de deterioração. Qualquer coisa que persiste intacta e incólume. São as imagens que não conseguimos deixar de revisitar. Desde o beijo ao som de Chopin no metro de Barcelona, a vez que fizemos amor no alpendre de uma casa abandonada, a firmeza da tua voz quando dizias "nós" com a convicção inabalável de que nenhum outro pronome nos fazia justiça. A tua figura no outro lado da rua, à espera de um semáforo indeciso e demorado no primeiro jantar a dois, a noite passada em alto-mar, feita de abraços e confidências e aquele adormecer suave e pacífico que só acontecia porque quando estávamos juntos, sentíamo-nos em casa.
E sabemos - sabemos porque os olhos se fecham e sentimos na pele arrepiada, no choro quieto na almofada, nas mãos trémulas que fazem força uma contra a outra para tentar ceifar o soluçar aflito que insiste em irromper - que são recordações que nos vão ficar como uma cicatriz fica. Permanente.
07/06/2011
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5 comentários:
Como eu me lembro de certas coisas que JAMAIS poderei esquecer...
Todos nós temos o nosso baú de recordações sagradas.
Beijocas
Ás vezes é fodido. Principalmente quando ves que os locais que "foram nossos", onde houve felicidade plena, serviram para levar outras pessoas.
E que aquilo que guardavas com tanto carinho a afecto, se tinha tornado uma imagem poluída.
Para além da cicatriz permanente com que ficamos, sentimo-nos por vezes jogados ao lixo.
Oh minha querida... Um longo e silencioso abraço apertado.
Agrada-me alguém com cicatrizes. Com história. Com marcas. Vivida. Com manhas. Com lastro. Que saiba o que és estar no outro lado, naquele. Sim, nesse mesmo.
Agrada-me.
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