30/01/2011

Escrever. Escrever numa manhã que desperta com o soluçar do vento. Escrever a meia-luz numa tarde gélida com ameaça de chuva. Escrever enquanto o frio da noite atravessa os pontos de lã do casaco dentro do qual tremo. Escrever numa esplanada com vista mar, escrever na areia, assistir ao tropeçar da onda que se aproxima. Escrever no verso de um talão de supermercado, num envelope ainda selado, escrever na palma da mão (a minha), escrever nas costas (as dele). Escrever com sofreguidão para que as palavras não emudeçam. Escrever embalada pelas colcheias e tercinas de Schubert. Escrever de olhos fechados, saboreando o silêncio que torna ainda mais apetecível a escrita. Escrever um memorando que fica guardado numa gaveta. Escrever uma carta de amor sem o propósito de a enviar. Escrever. Semear palavras nas muitas fissuras que cabem numa vida. Escrever um soneto, um manifesto, um manual de sobrevivência... Escrever. Muito. Sempre. Escrever.
 
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