20/01/2011

Ele fala num castelhano perfeito, um castelhano sossegado, que não tem pressa de partir nem procura chegar a destino algum, um castelhano doce e morno. Retribuo com um sorriso e em silêncio, e finjo dedicar-lhe toda a minha atenção, mas não consigo evitar perder-me algures entre a semântica e a fonética. E depois há as palavras, as minhas, que se acumulam na ponta da língua. Uma boca em tumulto, cheia de vocábulos como uma mão cheia de pedras. Para evitar o confronto e o desconforto recorro à mordaça; exercício particularmente difícil para quem como eu, padece de impetuosidade. Pouso-as numa estante em prateleira alta, empurro-as para o canto do prato, atiro-as para debaixo do tapete, ignoro-as como se de um som desarmónico se tratasse. Elas persistem, ecoam, imperativas, obstinadas - como um vulcão que emerge debaixo do soalho, e cujo som culpado apenas eu oiço.
 
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